28 agosto 2007

São Pedro,

Aqui na cidade o tempo cinza aliado com a mudança brusca de temperatura que inevitavelmente resultam em preguiça e motivam (de modo geral) deixar tudo que é possível para amanhã causando acumulo de afazeres; deixa a desejar para essa terra que tem como sobrenome cidade que não pára. Escrevo para dizer que precisamos de chuva e não de dias cinzentos! Desculpe o tom, mas o senhor sabe do que é capaz uma seqüência de dias cinzentos? É praticamente fatal para suicidas em potencial, maníacos depressivos ou menos, especialmente quando se trata de uma cidade grande.
Sabe São Pedro, eu entendo tua economia – ou seria birra? – em não mandar chuva e tento respeitar. É fato que aqui embaixo não somos disciplinados, assim como pouco – ou nada – foi feito desde o tempo em que falavam dos gases responsáveis pelo efeito estufa. Já te contei da minha canequinha de latão vermelha? E do lixo que aqui em casa separamos para reciclar? Também abasteço meu carro com álcool e sempre que posso uso meu bilhete único. É tudo muito recente, mas é um começo...
Nos últimos tempos eu mais agradeço do que peço. Hoje tomei a liberdade e vim pedir: mande chuva! Junto com ela, fique à vontade para mandar o nome do santo/ santa de sua confiança que possa interceder nesse apelo e conscientização da espécie humana.
Sendo franca, sinto que vai chegar o dia em que o senhor não vai mais atender apelos como este – ou vai ficar irritado e mandar cada vez mais chuvas torrenciais que caem no final do expediente ou em véspera de feriado. Que foi? Pensou que ninguém tivesse notado a tua indireta? Então Pedro: nem oito, nem oitocentos. Vamos ficar com o meio termo na santa paz do Senhor? Afinal de contas, uma mão lava a outra e diálogo ainda é a saída - acredito nisso, por isso te escrevo.
Pense com carinho. Podemos ter dias democráticos com sol pela manhã e chuva no início da madrugada, daquelas bem boas pra embalar o sono, sabe? Fale com Santa Clara e veja o que consegue fazer, por favor? Diga a ela, que eu gosto do brilho do sol tanto quanto gosto do som da chuva. Isso inclui o sol de inverno - aquele que não esquenta, mas se faz presente pra dizer que ainda não são dezoito horas e o expediente não terminou.
Se encontrar Santo Antônio, diga que eu já lhe devolvi o menino e que da próxima vez vou apenas dialogar - como estou fazendo agora. Aprendi a lição: na chantagem não se ganha nada... duradouro ou algo que o valha! Diga para ele não desistir de mim, sou boa gente e merecedora de sua atenção! Arranquei-lhe o menino num ato de desespero, mas não o mergulhei num copo d’água! Não fui tão cruel assim, concorda? Desculpe o desabafo. Se achar justo e conveniente; interceda por mim. São Paulo manda lembranças à todos. Diz que sentirá falta da Achiropita e aguarda San Genaro de braços abertos.
Apesar de não localizar o CEP nem a Caixa Postal; espero que receba esse recado e mande a chuva...

26 agosto 2007

Primeiro Ato

Na Coxia

21/04/2007
Acordou atrasada e num salto abandonou lençóis e travesseiros. Ligou o chuveiro e de olhos ainda fechados deixou a água quente cair sobre suas costas. Perdeu a noção do tempo em que ficou ali, no silêncio. Saiu do banho. Toalha enrolada na cabeça - outra no corpo. Procurou uma canção que lhe caia bem para aquela manhã ensolarada e só depois se preocupou com o que vestiria. Quanto às roupas, não é segredo que cansou de usar preto. Procurou algo colorido e a busca só acabou - como de costume - quando encontrou algo confortável e que o reflexo do espelho lhe transmitisse algo positivo. Pintou os olhos e os lábios, riu pra si mesma diante do espelho e agradeceu pelo dia que acabará de ganhar de presente. Num cantar desafinado - porém alegre - degustou o presente dia até suas últimas horas.

25 agosto 2007

A arte de enfeitiçar
22/11/2006
E se eu disser que é a tua voz o que me seduz? É algo que não consigo explicar com palavras, mas ao pé do ouvido dá arrepio por dentro, calafrio na alma. Algumas memórias surgem nesse momento íntimo carregado de afeto e despretensão. Como no dia em que você me colocou contra a luz, pediu para eu ficar imóvel por alguns instantes. Eu ria e você me olhava nos olhos. Só parei quando tua voz mansa e serena descrevia a beleza que refletia através da tua retina. Olhar fotográfico. Captura o momento. Mesmo quando discordamos, fascina essa tua sede de dividir conhecimento. Você diz que temos muito mais em comum do que eu possa imaginar. Tenho dúvidas, mas gosto do que ouço e libero um sorriso amplo. Você tem o dom. Faz com que eu me mostre - involuntariamente - nesse momento único, nesse meu tempo de agora. Minhas confusões, meus devaneios e questionamentos internos que por muitas vezes arrancam tua deliciosa gargalhada – não há nada mais afrodisíaco. E me surpreende com o excesso de zelo e carinho: esporádico e espontâneo. Mesmo quando tenta dissimular e finge ser tudo aquilo usual e muito natural. Agindo cuidadosamente e tomando conta com prazer de quem está ao seu lado como se lhe pertencesse. Limiar da madrugada. O singelo que enxergo em você é o que inebria. Sua meninice, pintas, sorrisos, abraços e beijos vindos do inconsciente... Chá, carinho e proteção.
Causa e efeito
09/11/2006
O brilho no olhar
A euforia na voz
O resgate do sentir
Dividimos momentos
E te perco
Na continuidade
Ao som de Alta Noite
--- ou ---
Com Arrnaldo e sem Marisa
20/11/2006
Outro dia
mas não um dia qualquer
com algum teor alcoólico
no sangue
e tantas verdades cortantes
a solta
antes de adormecer sem reflexo
eu reflito
e por isso digo que essa fuga foi
A salvação
Notas
06/12/2006
O telefone foi programado para tocar às dez horas, mas fui acordada por um telefonema antes do horário programado. Nem sempre é ruim acordar antes do horário desejado. Hoje foi.

22 agosto 2007

Vocabulário com H

.
híbrido do Lat. hibrida ou hybrida Gr. hýbris, injúria, ultraje
adj., que provém de duas espécies diferentes (animal ou planta); que se afasta das leis naturais; Gram., diz-se do vocábulo que se forma de radicais tirados de duas ou mais línguas diferentes; fig., que participa de dois gêneros diferentes; s. m., planta, animal ou palavra híbrida.
  • hermenêutica do Gr. hermeneutiké, scilicet téchne, a arte de interpretar
    s. f., a arte de interpretar os livros sagrados; interpretação dos textos, dos símbolos; interpretação do sentido das palavras; arte de interpretar as leis.
  • hegemonia do Gr. hegemonía, comando, primazia
    s. f., supremacia de um povo nas federações da antiga Grécia; superioridade política de um Estado sobre outro; supremacia de um povo entre outros, pelas suas tradições ou condições de raça, por costumes, etc.
  • heterogêneo do Gr. héterogenés, de outro gênero
    adj., que é de natureza diferente; que não é uniforme; que não tem unidade
    ; dissemelhante, moral ou intelectualmente.

20 agosto 2007

No nosso ponto de vista, as coisas vão melhorar

Desatando

Há alguns dias, despretensiosamente, a gente conversou sobre coisas.
Coisas que fazem sofrer.
Coisas que fazem bem.
Coisas que começam.
Coisas que terminam.
Coisas que recomeçam.
Ciclos.
Nessa conversa, você disse que sentiu uma dessas coisas e isso fez com que você adotasse um comportamento que, por ora, lhe cai bem. Até aquele momento eu não havia sentido tal coisa, mas hoje sinto.
E esse sentimento doido e doído que sinto não precisa ser sentido.
Não faz sentido senti-lo.
Penso em eliminar e já não faz sentido, pois só de pensar deixo de sentir.
O melhor, é cortar de vez pela raíz.
Dedicado à Carol Jorquera
A música da Érika Machado "As Coisas" não tem ligação com o conteúdo publicado - ou tem?
Ajuda a ampliar a visão das coisas e tudo mais que elas possam vir a ser.

18 agosto 2007

Dia

É tudo tão rápido, como sempre foi. Mas agora tem cheiro, sabor e sensação. Inovação. Nova gente e as mesmas observações peculiares desse ser humano; signo de ar. A cada novo dia estou mais demente e isso faz com que surjam novas leituras, valores pessoais e conseqüentes mudanças - o que até esse momento acredito ser de grande valia! Não procuro meu lugar no mundo e sim o mundo que é meu lugar. Paixão. Prática cotidiana de treino constante - por vezes minimalista - como respirar fundo, ter a feição tranqüila e um ar sereno no lugar de uma nuvem carregada acima da cabeça relampeando mal humor e ira devido a algum contratempo. Observar o outro lado do prisma requer talento e mestria. Treino. E com ele, prazeres diários com trilha sonora e um toque de lirismo para enxergar tonalidades sutis da metrópole que podem surgir em plena hora do rush. Descoberta. Contato exterior com o que há tempos é meu recheio. Intenso. Tudo: exagerado e novo, mas nem tanto. As escapatórias são as mesmas: musicalidade, palavras, comportamento, lugares, companhias, desafios, medos e alegrias. Não existe quem entenda, não há conversa. Faltam palavras para um sentimento contraditório e ambíguo. Singular. Fecham-se os ciclos e aguardo com uma dose de tranqüilidade e outra de convicção intuitiva as boas novas que surgem; agradáveis e gradativas... E algo me diz que nesse caso a escapatória - como num plano sagrado - se aliou com a coragem tornando-se realização camuflada.

Eu preciso do dia de amanhã
Acordar de manhã, um novo dia
Eu te levo para qualquer lugar
Pra poder cantar, um novo dia
Manhã... Como seria?
Cachorro Grande
O dia de amanhã

17 agosto 2007

IN MEMORIAM
Bairro é nobre.
Cidade é grande.
Espaço é raro.
Máquina de dinheiro.
Acidente trágico.
Reflexão induzida.
.Cotidiano
..Tempo
...Espaço
....Dinheiro
.....Qualidade
.......Vida
.......Família
........Impotência
.........Esquecimento.
O limite
. .Qual é o seu?

10 agosto 2007

Volver

Mesmo que a semana antecedente as férias do casal não tenha sido das mais tranqüilas (pedreiro, reforma, cirurgia, dreno, faxina e etc.) e tendo a primeira semana - que seria de ócio - dedicada à arrumação do apartamento; mantivemos os planos de almoçar juntos. Estava um dia lindo, ensolarado e eu atrasada; claro! Peguei o ônibus, metrô e cheguei esbaforida no apartamento deles pensando que estariam verdes de fome, mas o que eu encontro? Uma cena de Almodóvar! No corredor do apartamento tinha de tudo: material de limpeza, vassoura, caixas e a Tatí – ainda de pijama! – em frente à porta da cozinha com uma faca psicose na mão espremendo os olhos como que implorando por uma lágrima; dizia: “Katí, aconteceu... Me ajuda!” Eis que me aproximo e numa espiadela vejo um corpo trajando camiseta, calça cargo e tênis All Star coberto de ketchup - assim como tudo mais ao redor - e espumava vermelho pela boca enquanto pedia por socorro. Fiquei atordoada. Naquela hora, queria rir como faço hoje ao lembrar aquela cena hilária, mas não consegui, fui pega de surpresa. Só deu tempo de falar “Você tem um freezer por aqui? A gente pode colocá-lo lá!” Me arrependo de não ter fotografado a cena no melhor estilo C.S.I. Penso no que os dois seriam capazes de aprontar se ficassem mais alguns dias trancafiados naquele apartamento... Barbáries surgem na minha mente.


08 agosto 2007


Augusto de Campos - O Pulsar (1975)

07 agosto 2007

"...ao chegar em casa e se deparar com o olhar materno indecifrável, que declinava para o recriminativo, teve a certeza de que estava no caminho certo..."

03 agosto 2007

Wishes

Sentimento
Hoje
É de vespéra de carnaval
Amanhã
Preguiça gostosa
Lembrando almoço de Natal

02 agosto 2007

tudojuntonumsolugar

Pelo centro da cidade, num caminhar descompromissado com os ponteiros do relógio, fica a sugestão anônima de deixar a percepção ir além. A cidade tem vida própria e, dentro dela, várias outras vidas. Na cidade há diversos continentes, inúmeras realidades e tudo no mesmo tempo meu e seu. Miséria, cultura, lamúria, ignorância, oportunidades, trânsito, transeuntes...
"...Não tenho escrito. Não há tempo, não há condições práticas, não há serenidade. A cidade ruge e invade teu espaço. Tenho me perguntado muito do sentido de continuar vivendo em São Paulo. E não encontro resposta, nem outra possibilidade..."
Cartas - página 146
Caio Fernando de Abreu*
*Em casa, me deliciando com Caio F. O livro é da Tatí e eu estou envolvidíssima e bem disciplinada. Devo acabá-lo até próxima semana e devolver - faz muito tempo que está aqui comigo - e será o segundo livro do ano (estamos em agosto!). Quero muito ler Moby Dick, mas antes vou ler os livros que me emprestaram. Na seqüência vem Uma questão de vida e sexo. Tenho certa resistência para ler dois ou mais livros. Me envolvo com as histórias. Hoje prefiro um por vez, mas não abro mão de alguma poesia antes de dormir.