25 maio 2007

No púlpito

Lembra que com dezesseis anos - de frente para o espelho - ela imaginava sua vida aos dezoito. Aos dezoito esqueceu dos planos que fez aos dezesseis e acredita que atingiu a maturidade depois dos vinte e quatro ou vinte e cinco anos. Hoje, a partir das 16:00hs, a canção Vinte e poucos anos eternizada na voz de Fábio Jr. e À palo seco do Belchior ficarão incompatíveis com o seu registro de identidade - para ela que adora fazer referências pessoais em canções e citações poéticas; uma perda incalculável.

Nostálgica? Sim, ela deixou de ser nostálgica já faz algum tempo. Um bom exemplo é o fato de não colecionar mais álbuns de fotografia. Confidencia que hoje sente mais prazer em estar (no) presente, no momento seja ele qual for, ao invés de por obrigação registrá-lo: não quer mais imagens congeladas em papel, na sua mente elas ganham movimento, vida e despertam sensações. Quando o faz; é por vontade e desejo. Claro que ela não deixou de amar fotografia! Diz que é irreversível e desafia para que você a questione aos cinqüenta anos ou mais dando garantia que a resposta será idêntica e no mesmo tom de empolgação. Recorda que dia desses, apesar de não saber cuidar de plantas, comprou um livro de orquídeas só pelas belas fotografias. Planta é uma paixão mal explorada; admite. Confessa que nem cacto resistiu ao seu (não)cuidado. De tempos em tempos pesquisa no wwwponto curso de jardinagem e jura que ainda há de fazer um.

Não consegue ser breve em suas explicaçõe. Conta detalhes e minúcias o que acaba (também) incomodando - a si. Quando atenta, têm trabalhado intensamente esse desconforto e manda avisar que apesar de antenada; hoje abriu uma exceção por ser uma data festiva. Ela pede educadamente, porém com uma voz acelerada num tom desafiador e os olhos semi-abertos que destacam ainda mais o seu nariz arrebitado que pergunte aos pais dela se hoje é ou não é uma data festiva. Assim que acaba a frase, solta um meio-sorriso e uma covinha surge do esquerdo da face o que destaca seus olhos: um maior que o outro; como nessa caricatura aí ao lado.

Segundo sua mãe, foi uma criança que não deu trabalho, já para o pai ela foi o filho que ele não teve. Uma criança feliz, carinhosa, chorona e que teve gambitos até os dez anos de idade. Usou aparelho ortodôntico três anos - ou mais - e nunca quebrou um osso do corpo sequer. Aos onze anos, devido a uma luxação, usou goteira e acredita que ter pulado corda com a tal goteira influenciou para que o pé fosse engessado quinze dias depois da brincadeira. Fez aulas de jazz até os quinze anos e a dança, num ato inconsciente, revela um pouco mais quem é ela. Hoje é (bem) menos tímida do que tempos atrás, mas algumas ações ainda fazem suas bochechas queimarem - na maioria das vezes algo que seja imprevisível ou inesperado. Tem coragem para algumas coisas que muitos temem e é receosa para o que muitos arriscam com facilidade.

A curiosidade é uma constante e crescente, o que particularmente não acha ruim. Rindo, lembra de uma época onde não havia Discovery ou History Channel; assistindo Comando da Madrugada viu uma reportagem sobre uma capela construída com ossos humanos - teve a oportunidade de conhecer e fez uma viagem de cinco horas de carro com a família até chegar ao local. Guarda essa sensação de desbravamento até hoje, muito parecido com o que sentiu no final do ano passado quando esteve em Corumbau e avistou o Monte Pascal. Faz muitos planos de viagem e não abre mão de conhecer Ilha de Páscoa. Disney? Se for, é só depois dos quarenta...

Um dia roeu unhas, hoje não mais. Ultimamente, usa muito esmalte escuro: coisa que jamais imaginou que pudesse gostar. Investe no ato da flexibilidade, do experimentar, do ímpar e se lhe cair bem o ato, revê (ou muda) a sua opinião até dado momento. Quando pensativa, morde o cantinho da boca. Teve mais paixões platônicas do que namorados. Quanto aos namorados, o quanto soube e lhe foi permitido, amou intensamente cada qual no seu devido momento e sem meias palavras afirma que sempre sentiu amor. Gosta do clima da intimidade a dois, aquela coisa de poder ser quem se é, a troca, o envolvimento... Acha poesia nisso tudo. Quando nervosa ou aflita, coça o nariz. É impaciente e fica irritada quando não consegue expressar o que pensa – ela tem consciência de que é um tanto confusa por pensar demais e numa forma sem ordem muitas coisas ela pensa e entra em conflito quase que diário com seus pensamentos - ela justifica e se defende dizendo que eles, os pensamentos, tem vida própria. Não tem noção de espaço, quilometragem e distância. Quando dirige, erra caminho com facilidade, daquelas que se perde ao fazer o retorno no quarteirão.

Quer aprender uma nova língua, fazer uma especialização e não faz questão que seja na área em que atua, faz listas do que deve fazer no dia ou na semana e quase nunca conclui todos os itens da lista acumulando para a semana seguinte outros mais. Adora ir ao mercado, homens na cozinha e sacadinhas inteligentes. Não consegue classificar shopping como lazer e acha que não é impulsiva muito menos consumista. Não liga o carro sem antes colocar o rádio. Tem dificuldade em ser pontual. Quer voltar a nadar e não desistiu de correr. Apesar de não freqüentar assiduamente, gosta do Ibirapuera, dos botecos e do centro da cidade de São Paulo. Têm muitos planos e metas, alguns medos e um punhado de sonhos.

Ela tem paixão por música de qualquer nacionalidade desde que tenha uma sonoridade que lhe agrade. Gosta de composições e esse é um dos fatores da música brasileira estar tão presente no seu dia-a-dia. Adora poesia e continua comprando livro se o título lhe chama atenção. Na mesma proporção e intensidade é a sua paixão pelos filmes. Muitas em uma só. A complicadíssima trindade dos nomes próprios é sua auto-definição. Adora cores primárias e o marrom também. Admira e têm fascínio por trabalhos manuais. Aromas, velas e incensos: ela sempre os têm por perto, numa gaveta logo ali. Pequenos cacarecos e quinquilharias também são bem-vindos. Ela é alternativa para uns, estranha para outros, comum para muitos e sempre que possível; transparente com todos. De tempos em tempos não é a mesma. Carrega seus dias cinzentos, suas ranhetices, seus defeitos e têm um abraço forte e apertado que só ela sabe... Ela é traduzida por vários, mas raros são os que a conhecem.

Essa é a sinopse de uma vida ExtraOrdinária de um ser humano que tem muitos questionamentos, algumas (frágeis) certezas e acredita piamente na lei da ação e reação. Quer ter saúde, um cachorro labrador, pessoas queridas sempre por perto e tranqüilidade de hoje rumo ao futuro. Muito prazer, me chamo Katia e hoje é meu aniversário.

*Texto escrito e publicado dia 24/04 às 22:05hs