17 agosto 2006

Identific(a)ção*

"... não se sentia nem um pouco constrangida apesar de desconhecer praticamente tudo sobre ele. Mas não era sua história pessoal que a interessava no momento, o que a encantava era a sensação de que nele tudo ainda estava por ser escrito, não porque lhe faltasse uma história pessoal mas porque essa história fora escrita sobre uma superfície fácil de apagar."
"O desejo dá voltas em torno de si mesmo como um caracol em sua casa."
"Todo segredo escrito é para ser descoberto."
"A espera é feita mais de fantasia do que de realidade, mas (...) fazia todo o possível para colocar as idéias em ordem da forma mais realista possível."
"...não foram muitos numerosos os momentos de real perigo de vida. Seu cotidiano era feito de relatórios e procedimentos burocráticos mais do que de situações eletrizantes. A maior ou menor exposição ao perigo depende até mesmo do estilo do policial, de suas fantasias, seu destempero, (...) seu estilo estava muito mais para a caça de bons livros do que para a caça de criminosos. O que, no entanto, surpreendia seus colegas de trabalho é que quando convocado para o confronto com bandidos ou quando se empenhava numa investigação, ambas as coisas eram feitas com eficiência. A diferença estava em que, uma vez terminada a tarefa, voltava ao seu recolhimento habitual, à sua condição de estrangeiro. Tinha plena consciência do seu modo de ser e talvez por isso mesmo não tivesse largado a polícia. Não era estrangeiro apenas em relação ao seus colegas e à profissão, era estrangeiro em relação a tudo, seu espaço e seu tempo eram outros. (...) ali estava o verdadeiro perigo da vida. Seu modo diferente de ser, somado ao fato de nunca ter sido cooptado pela corrupção policial, tornava-o diferente. Os iguais tendem a se agrupar e a expelir o diferente, aquele cujo desejo não se confunde com o desejo do grupo e por essa razão sofre uma morte social, expelido lenta e gradualmente..."
*Trechos do livro O silêncio da chuva, de Luiz Alfredo Garciz-Roza
Leitura finalizada. Ouvi fogos e até fantasiei ter sido em comemoração a conquista do objetivo por mim traçado nos últimos dias - finalizar a leitura deste livro. A fantasia durou fração de segundos, praticamente o tempo de apertar um botão e em dois cliques saber que o Inter** havia marcado gol. Levantei da cama. Fui até a cozinha. Peguei uma caneca de água e poucos minutos depois estava envolta com as cartas de Caio F. Abreu.... delícia!
**Final de Campeonato - Libertadores da América