03 julho 2006

O reflexo

Diga a verdade ao menos uma vez. Diga! Olha lá, naquele espelho e diz para você o quanto teme. O quanto pensa. Seus pesadelos. Que essa aparente calma na verdade é medo. Fala tudo o que pensas, não é? E como são poucos os capazes de te compreender. Te enxergar. Essa atitude precipitada nada mais é que um artifício para esquecer a dor de um passado recente. Sua angústia faz recuar quando pensa no teu dia de amanhã e o isolamento se faz inevitável. Assume o quanto precisa de carinho. Fala da exaustão que sente em doar-se sem reciprocidade. Vai, fala! Fala que nada te comove. Que o pensar se faz presente e que sente a brutalidade invadir pouco a pouco o espaço da sensibilidade diária. Não reconhece mais os pequenos milagres diários. O cotidiano, tua árdua rotina. A ausência do amado é a tua única certeza ao acordar. Assim como você, não vejo brilho nos teus olhos. Mesmo ouvindo tantas coisas consideradas positivas e estimadas sobre a pessoa que projetas ao ficar diante do espelho. É; eu assim como você sou fruto da imaginação dos outros. Nem tão boa. Nem tão segura. Nem tão feliz. Nem tão trágica. Nem tão certa do que se diz... Somos a outra metade daquilo que o mundo não vê. Dias cinzas me fazem mal também.