21 abril 2006

Resenha de meu dia

Quinta-feira véspera de feriado: Tiradentes. Não tive tempo de conversar com amigos e familiares, foi tudo tão corrido nessa curta semana. No trabalho, em menos de dois dias, estava montada a pastelaria do tipo solta dois de carne e um de queijo! Negócio maluco - ou não. As pessoas visão resultado não importa a forma, consitência ou fonte e cada um defende o seu. Uma espécie de lei da sobrevivência da megalópole. Mesmo sem almoço e com muito trabalho o dia não demorou para passar. Para (me) compensar, uma xícara extra grande de café forte com um pastel de carne sêca e requeijão enquanto esperava minha agradável companhia denominada Rob para assistirmos ao show do Wado e o Realismo Fantástico. Além de provocar ciúme, Wado tem uma voz agradável, ótimas letras e melodias em frases marcantes como:
"Ler é libertar a palavra que estava enclausurada no papel"
"Os rios são as veias da terra a terra é um rio o sangue azul"
"Eu vou atrás de alguma coisa que devagarinho, desfaça todos pensamentos que vivem na sua mente"
"Se a tristeza fosse tanta que permanecesse muda"
"E uma raiz é uma flor que despreza a fama"
"Chocolate em minha xícara no caminho dos teus lábios"
"Esse funk é tarja preta remédio forte"
"Não se iluda, pé que dá fruta é o que mais leva pedra"
"quase dá pra ver flutuar... beijou você, beijou, beijou"
Nem todas são composições do Wado, mas tá valendo. Uma das agradáveis sonoridades que conheci este ano. De lá fomos para uma cantina localizada nas proximidades e diga-se de passagem um lugar que eu tinha loucura de conhecer. Finalizarei dizendo que foi uma quinta-feira de realizações. Em casa, cheguei a tempo de assistir Contos da Meia-Noite em uma releitura de João do Rio por Maria Luísa Mendonça excepcional. O texto: O homem de cabeça de papelão na íntegra.

"...Pode-se dizer que a originalidade da sua vida era trabalhar para trabalhar. Acedendo ao pedido da respeitável senhora que era mãe de Antenor, Antenor passeou a sua má cabeça por várias casas de comércio, várias empresas industriais. Ao cabo de um ano, dois meses, estava na rua. Por que mandavam embora Antenor? Ele não tinha exigências, era honesto como a água, trabalhador, sincero, verdadeiro, cheio de idéias. Até alegre — qualidade raríssima no país onde o sol, a cerveja e a inveja faziam batalhões de biliosos tristes. Mas companheiros e patrões prevenidos, se a princípio declinavam hostilidades, dentro em pouco não o aturavam. Quando um companheiro não atura o outro, intriga-o. Quando um patrão não atura o empregado, despede-o. É a norma do País do Sol.

...

O patrão do último estabelecimento de que saíra o rapaz respondeu à mãe de Antenor:— A perigosa mania de seu filho é por em prática idéias que julga próprias.— Prejudicou-lhe, Sr. Praxedes?Não. Mas podia prejudicar. Sempre altera o bom senso. Depois, mesmo que seu filho fosse águia, quem manda na minha casa sou eu.No País do Sol o comércio ë uma maçonaria. Antenor, com fama de perigoso, insuportável, desobediente, não pôde em breve obter emprego algum. Os patrões que mais tinham lucrado com as suas idéias eram os que mais falavam. Os companheiros que mais o haviam aproveitado tinham-lhe raiva. E se Antenor sentia a triste experiência do erro econômico no trabalho sem a norma, a praxe, no convívio social compreendia o desastre da verdade. Não o toleravam. Era-lhe impossível ter amigos, por muito tempo, porque esses só o eram enquanto. não o tinham explorado.Antenor ria. Antenor tinha saúde."