28 março 2006

Crônica Engavetada - I

Decide de última hora almoçar com os colegas de trabalho. Num restaurante próximo ao prédio em que trabalha, um grupo de aproximadamente seis ou sete pessoas se reúnem e decidem o que e onde almoçar. Caminham por algumas alamedas e logo chegam ao local escolhido.
Enquanto a comida não vem, ele observa todo o ambiente. As mesas, a decoração, as pessoas da mesa ao lado, a prática e certa agilidade dos que preparam os pratos na cozinha. A pressa e boa memória do garçom que anota os pedidos. De fundo um falatório. Zum zum zum típico de restaurante em horário de pico.
Pedidos feitos, bebidas na mesa e os assuntos começam. Sempre falam de trabalho e a frase começa assim "Antes que eu esqueça, deixa eu te falar que bla bla bla...". Em um curto intervalo alguém na mesa corta a conversa dizendo em tom de brincadeira "Estamos almoçando, nada de falar sobre serviço!". Um breve silêncio e novas conversas vão surgindo: do futebol ao planalto central, dos filhos à falta de dinheiro e ele está na mesa como expectador, o máximo que faz é um leve balançar de cabeça ou um suspender de sobrancelhas e arregalar de olhos sinalizando concordância.
Enquanto todos discutem ou falam sobre os mesmos assuntos, ele – agora - observa os presentes e nota que todos - sem exceção - tentam ser iguais, seguir um padrão de fala e comportamento. Instinto coletivo? Talvez. Percebe no comentário do colega ao lado o quanto o ser humano pode ser cruel e preconceituoso, cheio de padrões e frases feitas. Falam sem pensar e mesmo assim conseguem ser são tão previsíveis. Atitude de hoje reflete na educação e caráter dos filhos. Será que pensam nisso? Provavelmente nem notem que carregam tudo o que renegaram dos pais e caminham com os velhos vícios dos seus.
Sente-se crítico e têm vontade de pedir a conta. Isso não é ser observador é analisar minuciosamente cada pessoa e começa a questionar o que faz com que esteja sentado naquela mesa ouvido as mesmas velhas e repetidas histórias ao invés de levantas e dizer hasta la vista, baby!
Chega seu café: puro e sem açúcar. Bebe e volta ao trabalho. Ainda há meio expediente para cumprir. Quantos dias como esse ainda estão por vir?