13 dezembro 2005

Senta Que Lá Vem História ou Uma Crônica, Como Preferir

Sábado nublado e ela acordou cedo: hábito. Diariamente levanta às seis da manhã. Nem sempre espreguiça na cama. Na maioria das vezes, levanta num salto com medo de ser enfeitiçada pelas cobertas que abraçam seu corpo e se render aos caprichos de só mais cinco minutinhos. Apesar da tranqüila aparência, pensamentos e suposições consomem grande parte do seu tempo. Ela tem porte e faz questão de manter pose de mulher educada, correta e equilibrada. Limpinha. Carrega consigo um segredo: não sabe lhe dar com seus sentimentos. Segredo desvendado no dia-a-dia em seus gestos e atitudes. Exemplo? Seu abraço é frio e distante. Prefere o cumprimento à distância, como um sutil balançar de cabeça e o esboço de um quase sorriso ao contato pessoal.
Cumpre obrigações rigorosamente no prazo que lhe é estipulado. É pontual. Extremamente organizada. Raro expressar sua opinião. Se a faz, sua voz é firme e sua postura deixa transparecer que aquela é sua palavra final: a verdade absoluta. Julga e critica atitude alheia. Mesmo de desconhecidos; os famosos anônimos mortais que cruzam seu cotidiano. Atitude inconsciente. Como um impulso que quando se dá conta já foi. Fato consumado. Reclama dos dias quentes. Dos chuvosos tem horror; principalmente quando está desprevenida. Em seus relacionamentos amorosos não há cumplicidade ou entrega; ela se priva disso. Pune-se até na hora de amar. Doar-se. Talvez escolha, como companhia, pessoas que tenham as mesmas posturas que a dela.
Desejo de que um dia ela se permita provar o gosto de perder a hora - ou um dia de trabalho - para ficar debaixo das cobertas a dois. Tomar chuva sem se preocupar com a roupa, cabelo ou maquiagem; enfim: perca o medo do ridículo e do julgamento - uma alternativa para descobrir a felicidade.