Rascunho - Crônica ( Parte II )

Ele já passou dos vinte e cinco. Por vezes, seu comportamento faz a dúvida presente. Acorda às seis. Finaliza o penteado com gel. Veste o terno cinza. Combina gravata com a camisa. As meias com os sapatos. Põe sua mochila vermelha nas costas e segue para pegar o metrô. Lá, no metrô, é onde pergunta pra si mesmo - quase que religiosamente - o que têm feito dos seus dias. Questiona se é assim que quer viver: na correria. Essa falta de tempo o deixa estressado. Sente-se frio e distante da imagem que faz de si. Tem medo que daqui algum tempo não se reconheça. O chope com os amigos sempre às sextas-feiras... e por quê não numa segundona!? Cinema aos sábado - ou de quarta-feira, que é mais barato. Ah... essa rotina cansa! Pensa em quebrar os ciclos viciosos, mas não sabe como. Não consegue fugir nem dos pensamentos matinais que se resumem sempre a quebrar os tais ciclos. Esta aí mais um vício. Antes de descer na estação Trianon MASP ele promete a si mesmo que amanhã, quando tais pensamentos vierem ele vai pensar numa tela branca - técnica de meditação que aprendeu outro dia assistindo TV. Também planeja faltar um dia da semana no trabalho para ir ao parque de diversões. Está empenhado. Decidido. Torço por ele e pelo fim da rotina que o distancia mais e mais de si mesmo.