27 junho 2005

Mãe

Ouvi uma música linda hoje, que eu não conhecia. É muito do que eu gostaria de dizer. Especial. É assim que ela é. (E qual mãe não é?) Linda. Cabelo curto e avermelhado. Há pouco tempo; mudou a armação dos óculos. Cara de intelectual. As palavras-cruzadas nunca mais serão as mesmas. Ela é assim: esquece o nome dos filmes. Do ator/ atriz. De música. De muitas coisas. De quase tudo. Isso já me causou irritação. Hoje, não mais.
Faz com primor trabalhos manuais. É organizada. Super ativa. Faz mil coisas e sempre lhe falta tempo para fazer mais - palavras da própria. Disposta. Conta histórias com detalhes. Prestativa. Muito - e sempre - presente em minha vida. Do primário à faculdade. Retificando: até os dias atuais. Dedicada. Responsável pela "base da minha educação e caráter". Mulher de muita fé. Aberta e disposta a conhecer coisas novas - isso eu AMO tanto nela. Mãe de todos. Tem cócegas na barriga. Daquelas de tirar o fôlego. Labirintite também. Adora praia. Quer aprender informática. Às vezes tem atitudes de criança mimada. Às vezes de mãe chantagista. Tem muita saudade do seu pai. Tenta arduamente ter paciência com sua mãe. E não passa um dia sequer sem tomar café - puro; claro!
Quando a vi fraca, enxerguei a mulher que existia através da mãe. Vi uma fortaleza desmoronar. Nada fazia sentido. Foi difícil de aceitar. Até que as circunstâncias fizeram com que eu a reconhecesse como ser humano. Sem rótulos. E tudo foi ficando claro. E eu puder admirá-la ainda mais. Dessa vez, como pessoa.
Sempre amigas.
Mãe e filha(s).
Registro algo pessoal.
Frase que digo pra ela: é dela o melhor de mim.
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Mãe
Porque não me deixaste a vida inteira?
Com lã no umbigo de castigo na soleira
Roenda unha e falando palavrão?
Ô mãe
Eu tava me esfregando com urtiga
Esmagando crânios de formiga
Com um pau de sorvete esburaquei o chão
Mãe,
Por que não me deixaste a vida inteira
Esperando a hora da senhora vir da feira
Pra mandar o medo ir lamber sabão?
Ô mãe,
Eu acho que engoli um parafuso
O mundo todo anda tão confuso
Eu queria tanto a tua mão
Mãe,
Vê se me desculpa a choradeira
Mas é que foi no melhor da brincadeira
Que a senhora me mandou crescer
Mãe,
Hoje já não deixo o nariz sujo
Já não coleciono caramujo
Mas ainda preciso de você
Mãe,
Porque ficaste assim a vida inteira
Cuidando pra que eu não batesse a moleira
Se era pra apanhar da vida então?
Ô mãe,
Porque a gente ainda se utiliza
De limpar os sonhos nas mangas da camisa
De cortar os pés nos cacos de ilusão
Mãe,
Mandaste que eu não tomasse gelado
Me ensinaste a não ser mal educado
Me levaste a escola pela mão
Ô mãe,
Cuidaste bem de minha catapora
Hoje sou homem forte e agora
Posso seguir na minha solidão.
Barriga de fora - Kléber Albuquerque